Desenvolvimento de projeto de cadeira para uso coletivo utilizando o método de Desdobramento da Função Qualidade
Gabriel Gomes Dettogni (1), Renato Vizioli (2) e Paulo Carlos Kaminski (3)
(1) PECE-Poli, gabriel.dettogni@gmail.com
(2) PECE-Poli, rvizioli@usp.br
(3) Escola Politécnica da USP, pckamins@usp.br
respectivamente aluno, docente e coordenador do MBA Poli USP em Gestão e Engenharia de Produtos e Serviços do PECE
Artigo reproduzido do ebook GESTÃO DA INOVAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS: PESQUISAS E PRÁTICAS ATUAIS – 2016 do Instituto de Inovação e Gestão de Desenvolvimento do Produto (IGDP), cuja íntegra é disponível para download neste link
O objetivo do presente trabalho foi investigar a utilização do método do Desdobramento da Função Qualidade (QFD) no desenvolvimento de um projeto de cadeira de uso coletivo para utilização em espaços de restaurantes, bares e lanchonetes. O trabalho mostra brevemente o histórico desta tipologia de produto e sobre a aplicação do QFD. Em seguida é mostrado o desenvolvimento da Matriz da Qualidade para o novo produto, iniciando-se a partir de uma pesquisa mercadológica com usuários e com compradores potenciais do produto, e, posteriormente, com o desenvolvimento da tabela da Qualidade Exigida.
Por fim, o resultado dos desdobramentos foi utilizado para desenvolver o projeto conceitual do produto, o qual integrará o portfólio de uma varejista nacional do setor de casa e decoração.
Palavras-chave: Cadeira de uso coletivo. Desdobramento da função qualidade. Projeto deProduto.
Keywords: Collective use Chair. Quality Deployment. Product Design.
1. INTRODUÇÃO
Desenvolver cadeiras requer pensar ao mesmo tempo em estética, ergonomia e sustentação;
nos diferentes usuários que este produto terá, como será manipulado diariamente, quais as
condições do ambiente de uso, etc., além do preço, manutenção, robustez, peso e
reciclabilidade.
Por estas razões, uma das aplicações mais desafiadoras para se desenvolver cadeiras é para
usos corporativos: normalmente produtos com longa vida útil e de uso intensivo – seja por um
mesmo usuário, no caso de cadeiras de escritório, ou por diferentes usuários, no caso de
cadeiras de uso coletivo.
Além das necessidades oriundas dos usuários, diversos outros clientes do projeto devem ter
suas necessidades atendidas no desenvolvimento de um produto com potencial de sucesso
comercial: especificadores (ou arquitetos), clientes (a empresa que vai pagar pelo produto),
varejista e fabricante. A figura 1 ilustra as interseções destas necessidades, mostrando que o
produto deve atender desde as necessidades mais técnicas de fabricação e custo quanto
àquelas relacionadas à emoção, estética e usabilidade do produto.
O QFD – “Quality Function Deployment” ou Desdobramento da Função Qualidade – torna-se
uma ferramenta atrativa para entender o que é importante no produto na perspectiva do
projeto e converter isto em especificações de projeto.
2. REVISÃO TEÓRICA
CADEIRAS DE USO COLETIVO
A história do Design, ao menos até o final do século XX pode ser acompanhada pelos
projetos e materiais utilizados nas cadeiras. Este móvel por muitas vezes representou o
momento em que a sociedade esteve quando foi desenvolvido e ainda é objeto de aplicação de
estudos de materiais e ergonomia. (DESIGN MUSEUM, 2013). O desenvolvimento e
popularidade das cadeiras para uso coletivo foi um reflexo do desenrolar da revolução
industrial do século XVI e ascensão da classe burguesa. A partir do século XVII, o setor de
serviços na Europa ocidental começou a se desenvolver, em especial na França, com uma
explosão de cafés e bares nas regiões metropolitanas.
Löbach (2001) caracteriza estas cadeiras como “produto para uso por determinados grupos”.
Para esta categoria, os usuários finais mantêm uma relação menos marcante com o objeto,
muitas vezes não tendo nenhuma identificação com o mesmo. Isso deve ser considerado
durante o projeto de produto para estabelecer os pesos de importância relativa e a agregação
de valor de cada função do produto, contemplando aspectos práticos, estéticos e simbólicos.
No caso deste produto, as funções praticas (LÖBACH, 2001) são as mais representativas, e
uma série de recomendações guia este tipo de desenvolvimento específico, porém, segundo
Norman (2006), os compradores de produtos para empresas estão “provavelmente mais
interessados em preço, talvez em tamanho e aparência, quase com certeza não em
usabilidade”.
ENFOQUE QFD
Segundo Cheng e Filho (2010) o QFD nasceu no contexto dos programas de Controle da
Qualidade Total (TQC) como uma evolução dos enfoques da Garantia da Qualidade (GQ).
Enquanto o primeiro se dava pela inspeção do produto final e o segundo no controle do
processo, o terceiro enfoque se dá pela garantia da qualidade no desenvolvimento do produto.
Esta última abordagem visa à aproximação entre a qualidade exigida pelos clientes e a
qualidade do produto e serviço recebido, considerando para isto a qualidade de especificação
e qualidade de fabricação do produto. A origem do método é a voz do cliente, suas percepções
de qualidade e valor agregado. A partir daí “desdobra-se” na qualidade do produto final (e
suas partes componentes) até a obtenção de parâmetros mensuráveis do processo fabril.
3. METODOLOGIA
A primeira parte da aplicação do QFD foi à execução de uma pesquisa de mercado para
compreender os desejos e necessidades dos consumidores. O método de extração da voz do
cliente foi por meio de entrevistas individuais e de observação direta dos usuários finais no
X Workshop do Instituto de Inovação e Gestão de Desenvolvimento de Produto
ISVOR FCA – Betim / MG – 22 e 23 de Setembro de 2016.
MÉTODOS E TÉCNICAS 215
contexto de uso do produto. O formato de coleta de dados baseou-se nas recomendações de
Yasuda e Oliveira (2012), segundo as quais, a pesquisa de mercado tem como função explorar
os atributos do produto e também identificar as conexões entre o produto e o consumidor e
que “levam em conta seus valores e cultura”.
Foram entrevistados 40 usuários finais, 4 donos de estabelecimentos e 2 arquitetos utilizandose para tal, questionários distintos. Aos usuários, questionou-se sobre quais características das
cadeiras eles consideram importantes e quais são aquelas que incomodam, e a partir das
respostas, foram elaborados gráficos de Pareto (como no exemplo mostrado na figura 2).
A partir das respostas, foi elaborada uma especificação de projeto, com algumas
características como: maciez do assento e encosto, formato anatômico, materiais naturais
(madeira), assento que não escorrega, pouco peso, etc. Do mesmo modo, foram obtidos
subsídios para a especificação do projeto a partir das entrevistas com os proprietários de
estabelecimentos e com os arquitetos (projetistas). Todas as informações obtidas foram então
traduzidas em “itens exigidos” (CHENG e FILHO, 2010), utilizando o QFD, e em seguida,
foi estabelecida a qualidade planejada, comparando os parâmetros com produtos concorrentes
no mercado mostrados na figura 3.
Os usuários responderam sobre a importância do item de qualidade exigida em uma escala de
1 a 5, sendo 1, um item com “nenhuma importância” e 5, um item com “muita importância”.
Em seguida, responderam sobre o desempenho dos 3 produtos apresentados quanto aos itens.
A escala utilizada foi também de 1 a 5, sendo 1, um desempenho “péssimo” e 5, “ótimo”.
Os resultados da pesquisa foram então tabulados e foram definidos os pontos principais de
atenção no novo projeto após a montagem da matriz de qualidade e da tabela de
desdobramento das características da qualidade. Usou-se então a ferramenta de
“branistorming”, na elaboração de propostas, e, a partir destas, foi elaborada a matriz de
correlação (CHENG e FILHO, 2010). Através da correlação de 34 parâmetros, construiu-se
um gráfico de Pareto considerando os pesos relativos das características de qualidade, e foram
estabelecidos os principais norteadores do projeto.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado da aplicação do QFD foi tabulado (quadro 1), sendo possível desenvolver o
projeto básico conceitual do produto foi desenvolvido.
Inúmeras propostas foram elaboradas com base nestes parâmetros. A figura 4 ilustra algumas
delas, e a final (mais à direita), após inúmeras avaliações de critérios.
5. CONCLUSÃO
Os resultados preliminares do produto demostraram que a utilização do QFD resultou em um
projeto de produto parametrizado, considerando as necessidades de ao menos quatro grupos
de clientes: usuário final, especificadores, consumidores e varejista. Algumas vantagens
verificadas no processo incluem: correlação entre necessidades dos clientes e características
técnicas do produto, priorização do trabalho, comparação com concorrentes e com solução
atual da empresa e avaliação quantitativa do desempenho esperado do produto. Acredita-se
que com a maturidade da equipe de projetos na utilização do método QFD, novos projetos de
sucesso comercial irão ser lançados.
REFERÊNCIAS
CHENG, L. C.; MELO FILHO, L. D. R. QFD: desdobramento da função qualidade na gestão de
desenvolvimento de produtos. Belo Horizonte: Edgard Blucher, 2010.
DESIGN MUSEUM. How to Design a chair. 1 ed. Londres: Conran Octopus, 2010.
LÖBACH, B. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Edgar
Blücher, 2001.
MEU MÓVEL DE MADEIRA. Cadeira Apê Mel. Disponível em: https://www.meumovel demadeira.com.br/
produto/cadeira-ape-mel. Acessado em: setembro de 2015.
NORMAN, D. A. O design do dia a dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
OPPA DESIGN. Cadeira Uma Turquesa. Disponível em: http://www.oppa.com.br/cadeira-uma-turquesa.
Acessado em: setembro de 2015.
TOK STOK. Bunnie Cadeira. Disponível em: http://www.tokstok.com.br/vitrine/produto
.jsf?idItem=4284&bc=1007,1340. Acessado em: setembro de 2015.
YASUDA, A.; OLIVEIRA, D. M. T. Pesquisa de Marketing – Guia Para a Prática de Pesquisa de Mercado.
São Paulo: Cengage Learning, 2012.